
"Numa tarde escaldante de julho, no ponto médio da Pont de Arts sobre o rio Sena, J. concluiu que ele finalmente podia entender os suicidas. Essa ideia ocorreu ao cientista de forma cristalina, dotada da transparência lógica que os físicos costumam chamar de "elegância". Como numa demonstração matemática, a conclusão derivou de uma ideia anterior, esta de natureza especulativa: daquele dia em diante, ele não seria mais capaz de ler; palavras, números, signos matemáticos ou qualquer outra linguagem escrita perderiam a forma aos seus olhos,"
"Agora ele estava em pé na famosa ponte dos amantes, destino de legiões de casais apaixonados que, há décadas, repetiam ali o gesto coreografado de prender cadeados em seu guarda-corpo, objetos que, segundo laudos recentes da Prefeitura de Paris, ameaçavam derrubar aquela estrutura com seu excesso de matéria. Naquele dia, eram raros os turistas ou moradores caminhando por ali a onda de calor atípica forçou as autoridades municipais a recomendarem que as pessoas ficassem em casa,"
A physicist named J. undergoes a psychological collapse amid an intense July heatwave in Paris. Standing on the Pont des Arts, he reaches a crystalline conclusion about understanding suicides. He experiences sudden, progressive loss of reading: words, numbers and mathematical symbols dissolve visually after an episode in a secondhand bookstore. The city struggles with heat victims and authorities urge people to stay home. J. carries a peculiar personal library that mixes novels with mathematical manuals. The narrative situates his unraveling against urban details like lovers' locks threatening the bridge's structure.
Read at AnOther
Unable to calculate read time
Collection
[
|
...
]